Gira rodopia
a criança no coreto
Menina que dorme
de olhos semiaberto
No relento da calçada
O plástico preto
que sonora ao vento
Pode ser o cobertor
Pode ser a cama
Para o mijar
Embriagado
Os olhos fecham-se
Na esperança de um sono
Continuo ...
Mas o som da praça
Adormecida
De gritos de liquidações
Mudas
Na voz muda de garças
Que migram em direção
As águas represadas
A menina passeia
As margens da Guarapiranga
Muitas crianças
Pulam se jogam
Nas águas em
Um dia de sol
A mãe pede ao filho
Que não arrisque
A pele na sombridez
Da água turva
Mas o menino vê o verde
Do parque da mata
Do corredor de arvores
Ao lado da hípica
O céu azul
Refletido nas
Águas
Ora mansa recheada de peixes
Ora redemoinho que engole gente
Nas turbinas da Sabesp
A menina sonha
Os cabelos acariciados
Pelo vento
Pelas mãos de vento
Da Donzela Guaianazes
Moça que também
Habita a praça
Viajante de outros tempos
Raiz plantada nestas terras
Aos pés da árvore tombada
Para a construção do camelódromo
Plásticos brandam
Mortos, matéria
descartada
Olhares esquecidos
Na calçada composta
De passos ligeiros
Marcas nas mãos
Ciclo de vida
Reciclar as relações
Corriqueiras, fugazes
Como as promessas
Da cidade das luzes modernistas
Um dia no coreto
Habitou uma princesa
Bonecas de porcelana
Na jazida casa alemã
Bomba de chocolate
No rosto emnuviado
Da menina
Na jazida doceria Yramaia
Ecos de vozes do papagaio
No corredor da madrugada
Na também jazida pensão
Talvez uma Espanhola
Sonha a menina
Travesseiro de colo materno
Da donzela Guaianazes
Ela seria mãe
Se não fosse
Interrompida por
Fogo azul
Jaz Borba ao vento
Duro concretizado
No mosaico de Júlio Guerra
Borba andarilho de ladrilhos
Dá as costas para o fruto
Da semente mal plantada
Cayubi olha sua filha
Hoje mãe acariciando
Os cabelos da menina
Gira a menina no coreto
Ciclo de vida
Ciclo das águas
Que levam as lágrimas de mazelas
Julio Guerra limpa as pedras
De mármore e basalto
Julio Guerra lava o painel
Poluído por tinta preta
Em casas de outrora
Espanhóis, Portugueses
Alemães... habita uma tela
De Júlio que observa
A porta Veneziana do teatro
Lava as pedras no painel
Com lágrimas derramadas
Descansa Júlio Guerra
As lágrimas que brotam da terra
Na construção do metro
Fura o lençol freático
Com sede, do alto
A menina observa
Acompanhada
Pela donzela Guaianazes
Na igreja
Vultos de um jazido cemitério
Assustada ela volta para o coreto
Cayubi limpa o sono
De quem dorme ao relento
Guaranis com suas maracás
Hoje em Parelheiros
Cayubi abençoa a praça
Terebê planta ao pé
Da grande arvore
A semente de um povo
Útero da Terra
Aqüífero Guarani
Jorrando água
Na calçada
Cayubi guardião de toda a Terra
Olha a praça de frente
Com sua gente
Sua casa amarela
Onde em uma madrugada
Uma cidade virou bairro
Promessa fugaz...
Cayubi olha Borba
Olhar concretizado
Pelo chumbo
Olhar amolecido
Pelas lágrimas
Água Guarani
Sangue da Terra
Água cíclica
As margens da represa
Ciclo de vida na matéria ignorada
Trabalho de mãos calejadas
Jorrando o desperdício na calçada
Hoje são poucas as arvores
São diferentes os frutos
Plástico brotando no concreto
A donzela Guaianazes
Puxa um galho de Jasmim
E abençoa sua filha tão pequena
Tão sofrida
Com um beijo deixa a praça
Ciclo de vida na calçada
Criança gira no coreto
No tempo sonha
E com o vento
Se despede
sábado, 29 de novembro de 2008
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