sábado, 29 de novembro de 2008

Ao Santo armado - João Rosalvo

ajoelhado
devotado em oração
surge no banquinho inexistente da praça
um homem
na noite
que diante de sua devoção paulista
(a estátua do Borba Gato)
começa:

"Oh, meu Santo Armado,
de guerra construído e preparado,
que guardas a cidade amarga de barro,
bairro da grande metrópole, São Paulo,
meu tempo anti-lunar vem te pedir,
salve nossas noites de esperança
salve nossas boites, nossas danças,
nas ruas terminais de Santo Amaro
nas praças floreais de poucos atos,
nas casas da antiga: antigos fatos.

Fazei de nossa flor Matriz,
da alameda eira e da Eiró Meretriz,
a chave para acharmos o paraíso,
asfalto e carro e condutor divinos.

Com goles de cerveja, salvai as nossas almas padecidas
e as pobres caras, um tanto parecidas
dos jovens moços que roem o osso sujo e bebem do esgoto pútrido da cidade esquecida.

Aos maltrapilhos que cantam vícios
em coro triste no coreto limpo da Floriano,
dá menos planos e mais oportunidade
de fumarem um cigarro novo por noite
ou de cobrirem seus corpos poucos com lençóis de verdade.

Salve nossas Ladys e nossos End Nights.
E salve esta alma de homem pobre
que toda noite se cobre com manto de jornal
e diante da lua: silêncio sepulcral;
clama pelo povo sofrido
da noite querida
da Santo Amaro perdida
entre os becos e os beijos de suas meninas."

Nenhum comentário: