segunda-feira, 20 de abril de 2009

Jornal Estado de São Paulo.

São Paulo, sábado, 18 de abril de 2009.
Poetas cantam Santo Amaro, bairro da zona sul de São Paulo.

O cotidiano do bairro, com sua "sinfonia popular", é retratado por 13 poetas no livro ' Santo Largo Treze'.

Por Edison Veiga, de O Estado de S. Paulo.

Capa do livro "Santo Largo Treze" com desenho de Jozz.
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SÃO PAULO - Sete meses, um bairro, 13 poetas, R$ 13,2 mil e um projeto. Se fosse uma equação matemática, bastariam esses números para que brotasse o livro Santo Largo Treze (Editora Annablume, 72 páginas, R$ 15). Como é poesia, há muito mais rimas e acasos. Nem todos os "poetas de Santo Amaro" nasceram ou viveram no bairro, mas foi ali que eles se encontraram e compuseram seus versos. Por meio de palavras, retrataram o cotidiano do bairro, com sua "sinfonia popular" (leva capa do celular/ leva DVD barato/ quatro meu é um), seu metrô que liga o "nada ao sonho", sua praça cercada por grades "que nem tigre no xadrez", suas prostitutas, seus mendigos...
Grupo de poetas autores do livro Santo Largo Treze. Foto: Jonne Roriz/AE

Ivan Antunes e Ana Caroline. Ft RM

No início do ano passado, o poeta e estudante de Letras da Universidade de São Paulo Ivan Antunes, de 25 anos, começou a arrebanhar amigos literatos para animar o bairro da zona sul paulistana. "Queria fazer algo plural, com viés cultural, que lançasse um olhar para Santo Amaro", recorda. Com a ajuda de dois colaboradores - a turismóloga Ana Caroline Araújo, de 22 anos, e o estudante André Luís, de 24 -, inscreveu um projeto no programa Valorização de Iniciativas Culturais (Vai), da Secretaria Municipal de Cultura. Conseguiram o financiamento de R$ 13,2 mil para promover uma série de oficinas literárias e apresentações de poesia em Santo Amaro. Essa efervescência cultural resultou na publicação do fanzine Trezine Santo Amaro, do blog Treze Visões http://www.trezevisoes.blogspot.com/ e, por fim, do livro Santo Largo Treze.

Ft RM
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Ivan, que nasceu e sempre morou nos arredores de Santo Amaro, se lembrou de sua experiência como vendedor de planos de saúde - entre 2004 e 2005 - para escrever seu poema. "Na época, conviver com os camelôs do Largo 13 de Maio foi minha descoberta do mundo", afirma. Em versos: "posso falar um minuto?/ posso te ajudar um minuto?/ posso te assaltar um minuto?/ posso te surrar um minuto?/ posso te matar um minuto?" .

Sissy Eiko, Ad Rocha, Rui Mascarenhas, Erika Pires, Ana Caroline, Ivan Antunes, Roseli Kraemer, João Rosalvo, Indiara Nicoletti, Paulo Almeida, Domenico Almeida e Carlos Galdino, juntos com Paulo Eiró estatuado ao fundo. Foto Jonne Roriz.

Ft RM
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Além dele, o projeto teve a participação de outros 12 poetas, um ilustrador, uma fotógrafa e uma artista hippie. "Ela (a artista Roseli Kraemer), por atuar no Largo 13, nos ajudou no contato com o pessoal dali", explica a fotógrafa Sissy Eiko, de 26 anos, que fez 874 imagens do bairro - sete delas acabaram publicadas no livro. "Para mim foi uma experiência maluca porque nunca tinha ido à periferia", revela o ilustrador Jozz, de 25 anos, que há seis anos veio de Jaú (SP) para morar no centro de São Paulo. "Enchi um caderno com ilustrações das andanças que fizemos em Santo Amaro."
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Ft RM
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Para nortear o trabalho dos poetas, o grupo determinou que cada um escreveria sobre um tema predefinido. Treze temas. Na lista: as prostitutas do Largo 13, os eventos da Praça Floriano Peixoto, as grades da mesma praça, a Linha Lilás do Metrô, os vendedores ambulantes, o poeta santamarense Paulo Eiró (1836-1871), um passeio noturno pelo bairro, a história da região, a diversidade cultural, a miscigenação, o meio ambiente, a marca dos escravos e uma ode aos artistas.
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Imbuídos da missão, os poetas, em geral assíduos frequentadores de saraus paulistanos, não economizaram inspiração para a empreitada. "Um dos grandes problemas que a gente tem na zona sul é chegar ao centro da cidade e o sonho do santamarense sempre foi ter um metrô", se justifica Ad Rocha, de 49 anos. "Só que quando chegou, ligava o Largo 13 ao Capão Redondo." A Erika Pires, de 21 anos, coube homenagear Paulo Eiró. "Ele é de uma importância que as pessoas escondem", diz.
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Também jovem, João Rosalvo, de 23 anos, enfrentou o papel de poeta-boêmio e desvendou a noite santamarense. "Na adolescência, eu morava perto da Represa de Guarapiranga e tinha muito contato com Santo Amaro. Os ônibus que pegava sempre passavam pela região do Largo 13", lembra. "Via as brigas de bar, os menores que moram na rua, as ‘trabalhadoras da noite’... E a estátua de Borba Gato, aquele grande bonecão com cara de santo e uma arma na mão."
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Para o pernambucano Carlos Galdino, de 30 anos, que vive na capital paulista desde 1994, o Largo Treze é um verdadeiro Nordeste paulistano. "Tem muito da cultura do ‘norte’ ali, até naquele comércio. Por que não criar um polo cultural na zona sul?", defende. O baiano Rui Mascarenhas, de 46 anos, optou por tratar de um tema histórico. "Santo Amaro foi rota de passagem de negros fugidos para o Quilombo de Cafundó, no interior", conta. "Quando eu passo por aqueles caminhos, reencarnado naquelas visões, o que eu vejo? As casas, as pequenas construções, o sofrimento, as ruas estreitas..."
Ft RM
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Já a escolha de Domenico Almeida se mistura com sua chegada a Santo Amaro. Ele se mudou para lá, vindo de Sorocaba (SP), há 13 anos. Na mesma época em que a Praça Floriano Peixoto era cercada por grades. "Meu poema é uma discussão profunda da questão do espaço público e do espaço privado. Há um processo de isolamento", argumenta. "A praça gradeada foi uma solução ruim, mas os camelôs, as drogas e os pontos de prostituição a estavam invadindo." Em sua opinião, a melhor solução seria ocupar a praça com arte. " Tem um coreto, tem o artesanato local...", enumera. E a poesia, contemporânea, urbana, periférica, criada diuturnamente pelos 13 poetas de Santo Amaro.
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Ft RM
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Leia, abaixo, alguns dos poemas nascidos do projeto:
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Angola Janga
(Rui Mascarenhas)


..."aquele não foi o pior sofrimento quando íamo mato a dentro
fugindo a dente de cão"
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Pior o rosto vincado nos anos de solidão e assombros!
Pior o olhar catatônico que não distingue onde estamos!
Pior viver a honra de tão maculada mágoa sob intermináveis escombros!
Pior o degredo da alma no limbo que não diz quem realmente somos!
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..."Angola Janga surge a qualquer momento!
(...a qualquer momento)"
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..."com as forças de Olorum! de Olorum!"
Nosso Alimento!
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"muitos moços moças - poucos velhos dando o exemplo
aos que nunca chegaram tão longe - a sol poente
aos que nunca aqueles matos investigaram"
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Nego bom não se rende! Não se vende!
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"mato que cortava feito navalha,
e pio de pássaro nunca ouvido - seguido
por olho de índio menos temido que ferros na senzala"
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...e quando a noite caía, ninguém entendia a tormenta que se passava
.
E naquela noite,
Eu quis a morte de imediato!
Mas a morte não me quis!
Em Pânico devora-me as entranhas!
Em Pânico ressuscito!
.
Aí De Nós Quando A Noite Nos Deixar Se Pudermos Abrir Os Olhos À Realidade... Fitaríamos Com Horror A Vida O Espírito Haveríamos De Despertar E Que Certamente A Mercê De Tantas Atrocidades Deixaria O Corpo Transfigurado Ao Extremo A Ponto De Partir Pois O Espírito Não Nos Quer Atados Ao Mundo Quer Abandonar-Nos A Qualquer Momento
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"...e fomos encontrando terra boa,
Boa como os deuses haviam dito!
Bendito Exu! Que nos trouxe a essas alturas!
Bendito Oxossi! Por debandar esses malditos!
Bendito São Benedito!
Aos que existem na extensão de minha textura!"
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II
.
Vejo que muitos anos se passaram
Do Cafundó a Santo Amaro,
Onde a morte não me quis naquela noite...
Nem a lenta agonia do açoite!
.
...e encontro nossas antigas casas de dandaka embrutecidas!
.
Lado a lado sobremesmos ombros lacerados,
Meu Desorganizado Quilombo!
.
Vejo o intenso colorido que derrama quando essas delicadas habitações de miúdos abrem suas portas...
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O sangue a escorrer-lhes as veias de vias em avenidas expostas
Que de súbito amanhece exalando os odores agreste dos Silvas
das frias calçadas sob as costas...
.
...E Salve! Salve! Os Santos Silvas! Os Joseniltons também!
Que dia a dia revivem a mesma enxotada refinada de horrores
Às vistas cegas da Igreja Matriz da Eterna Glória dos Honoráveis Senhores!
.
...vejo quão tristes teus filhos estão!

...um amargo frescor lhes saem das janelas do riso como se entoassem cânticos de alegria no exílio.
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Sigo por entre ruas estreitas e tortas
O sândalo perfuma o machado que o corta.

Paulo Almeida e Erica Pires.
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O Limpo
(Erika Pires)

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Se Paulo Amaro,
São Paulo Eiró:
Do arrabalde um canto
em pés marcados
pelo amargo pó.
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Sangue limpo, ou quase -
São sangues derramados
pelas beiras
do santo.
São Paulos agrilhoados
- eiras da quase cidade.
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São sonhos de humanidade
em liames angustiados.
São versos
silenciados.
São eco - refúgio das Arcadas
- mansitude e liberdade
.
Arroubos e perfeições
de infortúnio
- plenitude em fuga às instruções:
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Na morosa vila Ibirapuera
O quase padre-jurista, poeta
Fez animar revoltas a sua era
E
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Em cantos d’um santo malfadado,
encontrado o pranto contra-atado,
à recolha do manto-encanto famigerado
da doutrina
.
de ser-vir e ser pecado
por amar em fugas, agridoce sorte
e
.
atuar em corte
cada verso e fado,
toda morte
-
Fuligem hoje, treze
- O largo pranto
de um poeta só
Carlos Galdino e Ad Rocha.

Metrô: do sonho ao nada
(Ad Rocha)

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Por aqui
passaram as mulas dos bandeirantes
abrindo picadas
as parelhas com as tralhas dos imigrantes
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Por aqui
passaram as procissões
com a imagem em andor de Santo Amaro
os magarefes, saltimbancos e vates
os camelôs com suas quinquilharias
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Ao lado da Matriz do Largo 13
jaz uma placa
indicando a última viagem dos bondes
onde hoje, ali mesmo
inicia a nova rota do metrô
ligando o sonho ao nada

Largo Treze de Maio
(Ivan Antunes)

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leva capa do celular
leva dvd barato
quatro meu é um
gelada coca gelada
gelada brahma gelada
amendoim do he-man
come o meu aqui faz neném
vem o carro do pão doce
tem pão de creme de côco
tem pão de creme de milho
atestado de saúde
faço dez o atestado
faço exame de vista, dentista
olha ótica ótica ótica tia
eu compro: ouro
dólar euro ouro
bom dia senhor!
posso falar um minuto?
posso te ajudar um minuto?
posso te assaltar um minuto?
posso te surrar um minuto?
posso te matar um minuto?
cheguei hoje afim de venda
só não quero é caroço
hoje faço promoção
vendo aqui a banca inteira
olha o cafezim com leite
(amendoim do japonês)
é caldo de cana do bacana
tapioca toda doce
o carro do pão doce vai passar
é o queijo das minas do mineiro
tem saúde tem plano de saúde
ultrassom
faz na hora senhora?
chega cá gato,
namora, amá, rola?
brincá
de fazê fiô?
é dez: garanto a diversão.
amai-vos sempre uns aos outros
contribua sempre teu reino
foge dos pecados da carne
a lê l uia l uia
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"- VEM RÁPA"
vai pau
polícia
sem papo
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fim da sinfonia
popular
Erika Pires, Syssi Eiko, João Rosalvo e Domenico Almeida.
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Ao Santo armado
(João Rosalvo)

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ajoelhado
devotado em oração
surge no banquinho inexistente da praça
um homem
na noite
que diante de sua devoção paulista
(a estátua do Borba Gato)
começa:
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"Oh, meu Santo Armado,
de guerra construído e preparado,
que guardas a cidade amarga de barro,
bairro da grande metrópole, São Paulo,
meu tempo anti-lunar vem te pedir,
salve nossas noites de esperança
salve nossas boites, nossas danças,
nas ruas terminais de Santo Amaro
nas praças floreais de poucos atos,
nas casas da antiga: antigos fatos.
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Fazei de nossa flor Matriz,
da alameda eira e da Eiró Meretriz,
a chave para acharmos o paraíso,
asfalto e carro e condutor divinos.
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Com goles de cerveja, salvai as nossas almas padecidas
e as pobres caras, um tanto parecidas
dos jovens moços que roem o osso sujo e bebem do esgoto pútrido da cidade esquecida.
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Aos maltrapilhos que cantam vícios
em coro triste no coreto limpo da Floriano,
dá menos planos e mais oportunidade
de fumarem um cigarro novo por noite
ou de cobrirem seus corpos poucos com lençóis de verdade.
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Salve nossas Ladys e nossos End Nights.
E salve esta alma de homem pobre
que toda noite se cobre com manto de jornal
e diante da lua: silêncio sepulcral;
clama pelo povo sofrido
da noite querida
da Santo Amaro perdida
entre os becos e os beijos de suas meninas."

Prisão: a Praça é do Povo
(Domenico Almeida)

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Prenderam a praça, Floriano!
Que prosa essa, que surpresa, o que foi que desgraçou?
Doze anos represada, que nem tigre no xadrez
coreto, banco, árvores, passeio, tudo grade e cadiado!
Mas que agressão!
Quem é que apropriou com olho-grande o que era alegre?
Tremenda encrenca!
Bola-presa, contrabando, prostituta, ladroagem, desemprego,
bate-prego, amarração, estupramento, sangradouro,
vale-brinde, represália...
sem falar na cobra-grande, pedregosa profissão
expresso preço da praga, play-ground da droga
Vixe-Maria! Coisa braba!
E outro arranjo? Em vez de prender, não podia proteger?
Difícil, mais trabalho, mais depressa aprisionar, encarcerar
Mas o segredo, apropriado, é regredir a repressão
O compromisso, a promessa, é impregnar a praça
De arte, aprendizado, educação.
E se o pau rolar, a polícia, beleguim
Pra engradar no xilindró - não a praça inofensiva -
os que degradam a paz do povo
malogrando a alegria, a graça livre
sagrada a qualquer pessoa.
Não à prisão! Captura-cadeia, clausura da praça
Sim ao conviver! Prosa branda, surpresa, apreço humano, predileto.
Desprendam a grade da praça!
Empreguem arte no espaço!
Tirem a grade da praça!
Criem arte no espaço...!

O TREZE DO LARGO
(Carlos Galdino)

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O TREZE DO LARGO
DO LARGO QUE É TREZE
TREZE !
AZAR OU SORTE ?
VIDA OU MORTE ?
TREZE !
APENAS UM NUMERO ?
VINTE MENOS SETE
CINCO MAIS OITO
SUPERTIÇAO
ILUSAO
O QUE HÁ ?
A QUEM COMPETE EXPLICAR ?
TANTA GENTE...
GENTE !
EM UM SÓ LUGAR
TANTA COISA PRA VENDER
E COMPRAR
NOVO NORDESTE DE CASAS DO NORTE
NORDESTINOS EM BUSCA DE TRABALHO
SONHOS E SORTE
PLANTAS,RAÍZES DE MANDACARU
(ATÉ PENSEI ESTÁ EM CARUARU)
SORTE DE QUEM ?
AZAR DE QUEM ?
AQUELE É TREZE !
A PLACA INDICA:
AQUI É TREZE
E LARGO
É FACIL DE SE PERDER
OU SE ENCONTRAR.
VIA LARGO TREZE
TERMINAL BANDEIRA VIA LARGO TREZE
TERMINAL VARGINHA VIA LARGO TREZE
JD ANGELA
CAPELINHA
E OUTRAS LINHAS
DOS SONHOS
TRABALHOS
FILHOS
FEIRAS
FESTAS
BILHTE UNICO AFINAL !
VIA LARGO TREZE
DE TERMINAL A TERMINAL.
SANTO AMARO
AMARO !
OLHA O LARGO !
AMARO !
O LARGO AMARO!
O LARGO
AMAROS AMARGOS, ANDAO PELAS RUAS
E SÃO TANTOS
BRANCOS
PRETOS
MARIAS
JOAQUINS
SEVERINOS
E OUTROS TANTOS
DE TODOS OS CANTOS
CABROBOS
CABACEIRAS
JEQUIÉ
FREI MIGUELINHO
SURUBIM
VIA LARGO
TODOS OS DIAS A CIDADE É ATRAVESSADA.

Link para a matéria do Jornal Estado de São Paulo

Saúde e Paz!!
RM

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Lançamento na Casa das Rosas - Santo Largo Treze


Sexta-feira, 13 de março, às 19 horas!

Vamos aquecendo os versos, pois agora em março, em nova "Sexta-feira Treze", faremos o lançamento da antologia Santo Largo Treze na Casa das Rosas - espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura.

A Casa das Rosas é o primeiro espaço público do país destinado à poesia. Abriga o acervo de cerca de 20 mil volumes da biblioteca do poeta, tradutor e ensaísta Haroldo de Campos (1929-2003).

Um grande Sarau com a presença de todos os poetas que participam da antologia, teatro, exibição de vídeo e exposição fotográfica ocupará os amplos espaços desta majestosa casa; hoje, simbolo da experimentação e do radicalismo promovido pelo movimento dos poetas concretistas brasileiros.

Apareçam, e levitaremos juntos por lugares entre a Av. Paulista e Santo Amaro.

Casa das Rosas - espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura.
Av. Paulista, 37 - Bela Vista.
11 3288-9447 11 3285-6986

domingo, 14 de dezembro de 2008

...e rolou a Festa!

...alguns dos Treze, mas são tantos, uns vintetrezes - "ma-ó-menu", como diria um dos personagens dos cordeis de Galdino; e observem a alegria do nosso "Rosa-Alvo" abraçado à pétalas de livros lindos. O Ivan - a ficha caíndo! Grande conquista meu estivador de pianos!
...Os livros com desenhos do Jozz (que tratou logo de segurar o seu). A capa: - É Verão E Noite! Tempo de Arte e Poesia! - ...fruto de um dos nossos "vintetrezes". - Sou testemunho: todos ansiosos, festa maravilhosa, despojada de assoberbações e falsos enredos: Superprodução! Superbela!

...recita para quem te ouve Serginho Poeta!
...que beleza a mesa posta aguardando poetas famintos! ...desde cedo a Sissy registrando tudo!...e aqui nos deixou um recado natalino:
"Olá mais que treze! Cá estão as fotografias!
Vcs podem fazer o download das fotos que desejarem!http://picasaweb.google.com.br/sissy.eiko/SANTOLARGO13
Beijocas"

...que presentão! Esse evento que rolou na Casa de Cultura de Santo Amaro, encruzilhada de tantas vidas e muitas estórias - que agora tem mais essa, um pouco nossa também que nos leva além... muito além!...nos dois sentidos, desde dos tempos idos do governo do Tenente Coronel Carlos da Silva Araujo; "E Salve! Salve! os Santos Silvas!"
...hoje abrigo de artístas, poetas, músicos, atores e transeuntes-santoamaroenses de todos os mundos compartilhando a diversidade de todos os sentidos
...a Poesia, o Teatro, o reconhecimento do Cláudio Lareautti e do introspectivo Paulo Almeida que muito acrescentaram ao projeto:
...atenta a tudo nossa editora Erika Pires que se entregou a um exaustivo trabalho contra o tempo, conquistando um belíssimo resultado: leve, claro, composto equilibrado, gostoso de manusear, um prazer a se descobrir...
...e da esq/dir: Show de Poesia com os Poetas, João Rosalvo tocando livros, Domenico na harmonia flautosa, Kadu "meu caetano" Ayala violando e Ivan Antunes, nosso querido hell-boy, afinando o verbo contra o sistema!

...toda alegria do mundo para o nosso anfitrião André Luís, descomprometido com tudo que não for pela arte, realizado e feliz, vencendor de lutas sobrepostas atracando com os containeres do camarim!
...Carlos Galdino e Sissy Eiko na montagem do painel de lambes: ...canta o "Ciclo de Vida" de Santo Amaro Indiara! Canta e nos redime!
...Ivan Antunes autografando ao lado da mais bela, nossa delicada sapientíssima princesinha Carol.
...presença dos poetas livres: Cláudio Laureatti sorriso solto, Rui Mascarenhas e o gran-estiloso-único Renato Palmares.
...André Luís esbaldado, fazendo um "triuo" escalada de glórias com os rapazes do projeto "Batuquedum"...o grupo de teatro que veio se desenvolvendo-crescendo durante as oficinas que nos proporcionou o projeto "As Treze Visões do Largo Treze" - também se apresentou com impressionante intensidade e profissionalismo ...RM e Domenico autografando um calhamaço dos "Treze" históricos mananciais de versos lúdicos
...o jogo "Foto" senso Sissy;
"Poema", esse em particular, Ad Rocha;
e detalhoso-preciso "Desenho" Jozz!
- um para cada "Santo Largo Treze"...até filme rolou - quanta coisa! - um documentário gerado a partir de cenas flagradas ao longo do acontecer super-projeto "As Treze Visões do Largo Treze"......que terminou em festa - um bolo comemorativo para esses encantados "mais que Treze's'" - que ficam!
Para toda a eternidade!Parabéns! Sucesso, Saúde e Paz a todos os participantes diretos e indiretos desse maravilhoso coletivo que deu certo!!

(RM)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

As Treze Visões do Largo Treze de Maio

Santo Largo Treze
Sábado 13 de dezembro - a partir das 13 horas!

.Convidamos a todos para o lançamento do Livro, antologia poética: “Santo Largo Treze” pela editora Annablume, que reuni poetas e artistas do projeto As 13 visões do Largo 13 de Maio - premiado pelo VAI 2008:

.. Teremos:
Exposição de Artesanato Hippie
Fotos Santo Amaro das Visões por Sissy Eiko
Causos de Santo Amaro com Santamarenses Ilustres!
Dança Santo Amaro! Fruto das Oficinas de Dança.
Teatro!
Exibição de Documentário realizado ao longo do projeto!
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Mingau de tapioca e mingau de milho...
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Sarau Abre-alas
com nosso maestro Kadu Ayala e banda Joga Bonito.

. Sarau de Lançamento do Livro
Santo Largo Treze
com apresentação dos Treze Poetas.
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Conselho Editorial:
Joaquim Antonio Pereira e Filipe Moreau
Ilustração:
Jozz
Fotografia:
Sissy Eiko
Diagramação:
Erika Pires
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Textos:
Ad Rocha
Carlos Galdino
Cláudio Laureatti
Domenico Almeida
Erika Pires
Indiara Nicoletti
Ivan Antunes
João Rosalvo
Laura Guimarães
Paulo Almeida
Renato Palmares
Rui Mascarenhas
Serginho Poeta

Venha Para Um Grande Brinde Poético, Lítero-Musical-Artístico no Coração de Santo Amaro!
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Casa de Cultura de Santo Amaro
Praça Francisco Ferreira Lopes – 434 – Santo Amaro.
(próximo a Avenida João Dias)
11 5522-8897

Santo Largo Treze de Dezembro de 2008!

sábado, 29 de novembro de 2008

Treze Poetas - Serginho Poeta

Serginho Poeta é Sergio Luis Oliveira Mesiano nas horas vagas. Morador do campo Limpo, nasceu em São Paulo, tem 38 anos e escreve poesia desde sempre. Sua descoberta como poeta se deu aos dezenove anos e a afirmação junto ao público, no antigo bar Ziriguidum, onde acontecia o Samba da Vela, comunidade que o lançou. Hoje é atuante em diversos movimentos e um dos organizadores da Expedición Donde Miras.

Largo e Profundo - Serginho Poeta

No instante
Em que o sino da igreja anuncia
A hora da Ave Maria
O Menino outra vez desafia
A Guarda Municipal
Precipita-se por entre o comércio informal
E o mar de gente confusa
Desce a alameda em queda livre
E vai se abrigar nos braços da Meretriz
O Ambulante canta a oferta
Abafando o alerta de pega ladrão
No instante seguinte
O Padre bendiz o Menino
No ato do seu sermão
E a Carola, samaritana boa
Que momentos antes
Perdera a bolsa e a fé nos meninos
Reza e perdoa
E tudo volta ao normal

Percebo um olhar de soslaio
No Largo Treze de Maio
Coberta de jóia falsa
A maquiagem realça
O rosto da Moça da Vida
E a pouca idade que tem
A Guarda esquece o menino
O Ambulante grita de novo
E o povo se agita na praça

É tudo pressa de novo
E o Ônibus passa
E passo Eu e o Menino
A Carola e a Puta
Só o Largo Treze não passa.

Treze Poetas - Rui Mascarenhas

Rui Mascarenhas nasceu em 1962, em Salvador, cidade histórica, às margens do caldeirão da Bahia de Todos os Santos, de todas as diversidades. Publicou, no final de 2007, o livro "MEIOHOMEM. Eternidade, Meu Canto Que Fica!", e desde então vem se dedicando à literatura e à fotografia participando de intensa programação literária no estado de São Paulo e em todo o Brasil a exemplo do Corredor Literário de São Paulo; Balada Literária; Espetáculo Cantos Negreiros, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima; "Encontro Com o Escritor", promovido pela Associação dos Escritores Santamarenses, na Casa de Cultura de Santo Amaro; "Projeto Cidade Poesia", quando pela primeira vez recitou o poema "São Paulo", na Casa das Rosas, espaço cultural Haroldo Campos; "XV Festival de Artes de Itu"; "XI Congresso Internacional da ABRALIC", FLAP – São Paulo; "Vocabulário II", convidado pelos escritores e poetas Marcelino Freire, Chacal, Paulo Scott e Marcelo Montenegro; "Projeto Cartografia Web Literária", no SESC Consolação; Bienal do Livro de São Paulo, no Stand da Volkswagen, Parque de Exposições Anhembi; recital promovido pelo IV Congresso ABEH, Associação Brasileira de Estudos da Homocultura Universidade de São Paulo – USP; I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, tendo alguns de seus poemas publicados na antologia "Poemário", organizado pela Biblioteca Nacional de Brasília - 2008. Escreve no blog autoral http://www.meiohomem.blogspot.com/.

Angola Janga - Rui Mascarenhas

..."aquele não foi o pior sofrimento quando íamo mato a dentro
fugindo a dente de cão"

Pior o rosto vincado nos anos de solidão e assombros!
Pior o olhar catatônico que não distingue onde estamos!
Pior viver a honra de tão maculada mágoa sob intermináveis escombros!
Pior o degredo da alma no limbo que não diz quem realmente somos

..."Angola Janga surge a qualquer momento!
.............................(...a qualquer momento)"

..."com as forças de Olorum! de Olorum!"

Nosso Alimento!

"muitos moços moças - poucos velhos dando o exemplo
aos que nunca chegaram tão longe - a sol poente
aos que nunca aqueles matos investigaram"

Nego bom não se rende! Não se vende!

"mato que cortava feito navalha,
e pio de pássaro nunca ouvido – seguido
por olho de índio menos temido que os ferros da senzala"

...e quando a noite caía, ninguém entendia a tormenta que se passava.

E naquela noite,
Eu quis a morte de imediato!
Mas a morte não me quis!
Em Pânico devora-me as entranhas!
Em Pânico ressuscito!

Aí De Nós Quando A Noite Nos Deixar Se Pudermos Abrir Os Olhos À Realidade Fitaríamos Com Horror A Vida O Espírito Haveríamos De Despertar E Que Certamente A Mercê De Tantas Atrocidades Deixaria O Corpo Transfigurado Ao Extremo A Ponto De Partir Pois O Espírito Não Nos Quer Atados Ao Mundo Quer Abandonar-Nos A Qualquer Momento

"...e fomos encontrando terra boa,
Boa como os deuses haviam dito!
Bendito Exu! Que nos trouxe a essas alturas!
Bendito Oxossi! Por debandar esses malditos!
Bendito São Benedito! Aos que existem na extensão de minha textura!"

II

Vejo que muitos anos se passaram
Do Cafundó a Santo Amaro,
Onde a morte não me quis naquela noite...
Nem a lenta agonia do açoite!

...e encontro nossas antigas casas de dandaka embrutecidas!

Lado a lado sobremesmos ombros lacerados,
Meu Desorganizado Quilombo!

Vejo o intenso colorido que derrama quando essas delicadas habitações de miúdos abrem suas portas...

O sangue a escorrer-lhes as veias de vias em avenidas expostas
Que de súbito amanhece exalando os odores agreste dos Silvas,
das frias calçadas sob as costas...

...E Salve! Salve! Os Santos Silvas! Os Joseniltons também!
Que dia a dia revivem a mesma enxotada refinada de horrores
Às vistas cegas da Igreja Matriz da Eterna Glória dos Honoráveis Senhores!

...vejo quão tristes teus filhos são!

...um amargo frescor lhes saem das janelas do riso como se entoassem cânticos de alegria no exílio.

...sigo por entre ruas estreitas e tortas

...o sândalo perfuma o machado que o corta.

Treze Poetas - Renato Palmares

Renato Palmares, poeta membro da ASSESA (Associação dos Escritores de Santo Amaro), um dos organizadores do evento Humanitude, responsável por projetos como o Sarau no Albergue Santo Dias em Santo Amaro.

O preço da fantasia - Renato Palmares

Elas estão por ali:
Rua da Matriz, Alameda Santo Amaro , Barão do Rio Branco, praça Floriano...
Largo Treze De Maio.
Santo Amaro rogai por elas!
Posto que ninguém mais roga!

Elas estão por ali...
Damas da noite florindo na calçada:
Perfume, batom, minissaia...
Vendendo fantasias que não se sabe,
Não podem ou não querem comprar...

Lábios imaculados, lábios violentados!
Leite, mel e açoite...
Ganhando a vida, perdendo a vida...
Santo Amaro, rogai por elas !
Posto que ninguém mais roga...

Elas estão por ali !
Sol escaldante, friagem da madruga...
Caras, bocas, bundas, coxas...
Nem tão livres... nem tão pobres...
Utilidade pública, utilidade púbica!

Santo Amaro, rogai por elas!
Posto que ninguém mais roga...
Santo Amaro !
Santo!...Céu!... Milagres!... Orações!...
Elas, profanas... inferno... orgasmos... ilusões..

Treze Poetas - Paulo Almeida

Paulo Almeida, poeta tardio, obcecado e um tanto melancólico. Dado a extravasos, excessos, extravios e pensamentos vagos. Tudo sob uma capa de aparente normalidade. Respira como se de fato existisse. Não sabe mais o que sabia, às vezes intui e escreve e nomeia

Santo Amaro de Vários Artistas - Paulo Almeida

Nem todos os demônios se dissiparam
Na barra da manhã...
Quando amanheceu era sábado,
O sétimo dia,
E pouca coisa era sagrada :
Quem sabe a necessidade do camelô
Dizendo nunca se sabe ,
Atento à guarda municipal,
Quem sabe a pouca idade da menina
Calcando ruas já tão prostituídas,
Quem sabe a febre de Paulo,
Eiró,perseguindo noivas,poemas,
e represas entre ruas, catedrais
E hospícios .
Na casa amarela treze poetas
E treze visões se entrelaçam.
Colecionadores de pedras
Extravasam poemas e vidraças
Com um novo olhar .
Um planeja ornar com flores
A carabina de Borba Gato.
Outra ,poeta e menina,
Dança no coreto enquanto recita
Nua poesia sobretudo Santo Amaro.
Vamos ao largo de dvds , piratas ,
E da catedral sufocada,
Colocar versos na boca da estátua,
Ouvir o uivo dos albergados,
Confissões púbicas e sem preço
Da fantasia em hotéis baratos.
Vamos comungar o pão e a poesia,
Perecíveis artistas no monumental teatro das ruas.

Treze Poetas - Laura Guimarães

Laurinha Guimarães tem 22 anos e cursa Letras na USP. Sua poesia é carregada de musicalidade e sonoridade, já que, além de poeta, é violonista, cantora e compositora. Já apresentou-se na Casa das Rosas, Teatro do Ator e no projeto "A Curva da Praça", que lhe rendeu o convite para participar deste projeto: "Treze visões do largo treze de maio".

Ecos do Largo Treze - Laura Guimarães

Que tipo de fé, seu moço,
consola as noites
desse pedaço de chão?

Sabe, seu moço,
um tipo de Deus diferente
passeia pelo Largo.

Pequenos milagres
escorrem pelas sarjetas
e abotoam as camisas
daqueles que não as têm.

O sopro de sarcasmo que falta
transborda dos copos cheios de mágoa
que toma conta do corpo
daqueles que não têm mais corpo, não.

Sabe, seu moço,
há um rio mudo
correndo, ao largo,
por entre as veias desse povo.

Correnteza forte, sim senhor!

Sabe, seu moço,
há um largo sorriso de medo
preso em suas gargantas.

Protestariam, se soubessem.
Contestariam, se pudessem.

Mas de que adianta força sem direção?

O pai de família corre atrás do pão.
A dona de casa faz milagre na ponta da faca.
A criança faz brinquedo do lixo que sobra.

Do pouco que sei,
sei que esse pedaço de chão
é como se fosse o mundo inteiro.
Santo Amaro.
.......................Meu mundo, meu chão.

Treze Poetas - João Rosalvo

João Rosalvo da Silva Júnior, tem 23 anos, é natural da capítal paulista e nela mora desde que nasceu, mais precisamente no distrito de Santo Amaro (região de Guarapiranga). Há 4 anos se mudou para o Jardim Catanduva, na região de Campo Limpo, mas não perdeu suas ligações com Santo Amaro. Está no último ano do curso de letras na (falida) Universidade de São Paulo (USP).
Como poeta participou do movimento Sarauê, além da organização dos dois Festivais de Música e Literatura da Faculdade de Filosofia , Letras e Ciências Humanas (FFLCH - USP), tendo um poema (SONIFESTO) publicado no livro do primeiro festival. Ao ser convidado para participar das "Treze visões" relutou, pois não sabia exatamente qual a proposta, mas hoje se entusiasma com as dimensões que um movimento como esse pode ter e espera que seja um forte sopro para reavivar a chama da cultura para a região santamarense e com essa chama incendiar a cultura de uma maneira mais ampla.

Ao Santo armado - João Rosalvo

ajoelhado
devotado em oração
surge no banquinho inexistente da praça
um homem
na noite
que diante de sua devoção paulista
(a estátua do Borba Gato)
começa:

"Oh, meu Santo Armado,
de guerra construído e preparado,
que guardas a cidade amarga de barro,
bairro da grande metrópole, São Paulo,
meu tempo anti-lunar vem te pedir,
salve nossas noites de esperança
salve nossas boites, nossas danças,
nas ruas terminais de Santo Amaro
nas praças floreais de poucos atos,
nas casas da antiga: antigos fatos.

Fazei de nossa flor Matriz,
da alameda eira e da Eiró Meretriz,
a chave para acharmos o paraíso,
asfalto e carro e condutor divinos.

Com goles de cerveja, salvai as nossas almas padecidas
e as pobres caras, um tanto parecidas
dos jovens moços que roem o osso sujo e bebem do esgoto pútrido da cidade esquecida.

Aos maltrapilhos que cantam vícios
em coro triste no coreto limpo da Floriano,
dá menos planos e mais oportunidade
de fumarem um cigarro novo por noite
ou de cobrirem seus corpos poucos com lençóis de verdade.

Salve nossas Ladys e nossos End Nights.
E salve esta alma de homem pobre
que toda noite se cobre com manto de jornal
e diante da lua: silêncio sepulcral;
clama pelo povo sofrido
da noite querida
da Santo Amaro perdida
entre os becos e os beijos de suas meninas."

Treze Poetas - Ivan Antunes

Ivan de Azevedo Antunes Corrêa, 1984, professor, funcionário público. Está se formando em Letras USP, realiza atividades culturais no Paço Cultura Júlio Guerra - Casa Amarela. Foi vendedor de plano de saúde no Largo Treze de Maio e é um dos idealizadores e organizadores do projeto "As Treze visões do Largo Treze de Maio" premiado pelo VAI em 2008. É o poeta que mais falta em saraus. Aliena- com a conclusão do curso de Letras e com o Corinthians. Auxiliou na organização das edições da FLAP (Festa Literária Aberta ao Público), foi um dos idealizadores e organizadores do Sarauê! (Sarau da Faculdade de Letras/USP). Tem textos publicados no Livro do I Festival de Literatura - Faculdade de Letras - FFLCH-USP (Dix, 2006); Antologia Vacamarela (2007); Revista Áporo (2008); II Festival de Letras da FFLCH (Humanitas, 2008); Zine Mentolado (2008); Trezine I e III (2008); Participou do XV Festival de Artes de Itu em 2008 na Biblioteca Prof. Waldir de Souza Lima; Foi convidado a fazer parte da antologia Ávida espingarda (Dix,2009). Mantém projetos acadêmicos sobre a Literatura de Periferia. É filho da dona Silvia e do seu Luiz, é o namorado da Carol e a ama muito, é um desses que até o fim do ano pode ficar louco da cabeça, sem namorada e sem família metido em tantos projetos. Vai ver que é pedra no teu sapato, vai ver que é corda do coração, enquanto tiver força pulsa.

Largo Treze de Maio - Ivan Antunes

leva capa do celular
leva dvd barato
quatro meu é um
gelada coca gelada
gelada brahma gelada
amendoim do he-man
come o meu aqui faz neném
vem o carro do pão doce
tem pão de creme de côco
tem pão de creme de milho
atestado de saúde
faço dez o atestado
faço exame de vista, dentista
olha ótica ótica ótica tia
eu compro: ouro
dólar euro ouro
bom dia senhor.
bom dia?
posso falar um minuto?
posso te ajudar um minuto?
posso te assaltar um minuto?
posso te surrar um minuto?
posso te matar um minuto?
cheguei afim de venda
só não quero é caroço
hoje faço promoção
vendo aqui a banca inteira
olha o cafezim com leite
(amendoim do japonês)
é caldo de cana do bacana
tapioca toda doce
o carro do pão doce vai passar
é o queijo das minas do mineiro
tem saúde tem plano de saúde
ultrassom
faz na agora senhora?
chegue cá gato,
namorá amá rolá?

brincá
de fazê filho?
é dez: garanto a diversão.
amai-vos sempre uns aos outros
contribua sempre teu reino
foge dos pecados da carne
e ale lu i a

"- VEM RÁPA"
vai
pau
polícia
sem papo.

fim da sinfonia
popular

Treze Poetas - Indiara Nicoletti

Indiara Nicoletti Ramos nasceu dia 9/7/1979 em Santo Amaro, São Paulo – SP. Passou boa parte de sua infância neste bairro, participando de atividades culturais na Casa de Cultura de Santo Amaro (antigo CACE) quando era criança. Estudou no Colégio ENSEL – Externato Nossa Senhora De Lourdes, na Rua: São José.
No colegial aprendeu fotografia, formando-se como técnico em Publicidade e foi também no colegial que começou a escrever poesia e a desenhar e pintar...
Participou do projeto de pintura de postes(intervenção urbana): Totens da Paz, no bairro da Lagoa da Conceição em Florianópolis, coordenado por Lis Figueiredo.
Atualmente estuda Artes Plásticas na UDESC(Universidade do Estado de Santa Catarina), aonde vem realizando trabalhos em Artes Visuais utilizando-se de diversas técnicas e linguagens como: gravuras(metal, litogravura, serigrafia), fotografia, vídeo-arte e vídeo-poesia, desenhos...
Em Janeiro de 2006 participou da exposição "Feliz aniversário Nelson Leirner", com um trabalho em Litogravura na galeria Casa da Xiclet em São Paulo.
E entre Junho e Julho de 2006 participou da exposição"Emparedados" no MHSC Museu Histórico de Santa Catarina (Palácio Cruz e Souza), com um trabalho coletivo juntamente com Gabriela Dreher e Fernanda Junqueira um site-arte tendo como foco o próprio Museu Histórico, Palácio Cruz e Souza.
Em 2007 e 2008 vem participando do Sarau Boca de Cena, em Florianópolis. Projeto de Extensão Universitária pela UFSC (Universidade do Estado de Santa Catarina) coordenado por Juliana Impaléa.
Em 2008 teve poemas publicados nas revistas: "Sarau Boca de Cena em revista" Florianópolis-SC e revista "Não Funciona" – São Paulo-SP.